segunda-feira, 28 de junho de 2010

Caxias vive a “febre” das cesarianas

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Confirmando uma tendência nacional já observada nas últimas duas décadas, o número de partos cesáreos no município não para de crescer. Do total de 5.878 nascimentos registrados em Caxias no ano de 2009, 3.817 foram através de parto cesáreo, ou seja, 65% do total.

Índices
A média na região em 2008 foi 64,5% e no Estado foi 53,7%, considerando todos os partos ocorridos no sistema público e privado. Separados, os sistemas revelam que o número de partos cesáreos é bem maior no sistema privado que no público.

Situação crítica
A situação é tão crítica que, na última semana, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Conselho Federal de Medicina, a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia lançaram uma pesquisa entre os médicos ligados aos planos de saúde para conhecer a percepção dos profissionais sobre o parto normal e identificar as razões do alto número de cesarianas no sistema privado de saúde.

Aumenta o número
A tendência de aumento do número de partos cesáreos é contínua desde 1992, mas ultrapassou a casa dos 50% em 2006, no Estado do Rio Grande do Sul. O relatório do Sistema Nacional de Registro de Nascimentos 2008 do Estado apresenta uma série de dados sobre idade da mãe, peso ao nascer e outras variáveis que podem ter alguma relação com o alto número de cesarianas, mas apenas duas apresentam maior consistência: a raça e a escolaridade. O número de cesarianas é maior entre as mulheres de raça branca e com maior escolaridade. Como o SINASC não registra a renda, pode-se presumir, sem muito erro, que ele é maior também entre aquelas de maior renda.

Explicações
Alguns fatores podem ajudar a explicar porque as taxas são maiores entre as mulheres brancas, com idade superior a 25 anos e com 8 anos ou mais de estudo: a busca de atenuar a dor do parto normal, o intuito de não forçar o corpo no talvez demorado trabalho de parto, e a falsa idéia de que o corpo retorne ao normal mais rápido nas cesáreas ajudam a entender a lógica de quem opta pela cesariana.

Em Caxias
Segundo o Dr. Dino de Lorenzi, Coordenador da Área de Saúde da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde de Caxias, os números em Caxias são altos, em parte, devido ao número elevado de pessoas com planos privados de saúde. Desagregados, os números revelam que no SUS prevalecem os partos normais e no sistema privado o parto cesáreo é mais freqüente.

Poder de escolha
A diferença, diz o Dr. Dino, é que no SUS a mulher não tem poder de escolha, pois a cesárea só é realizada por indicação médica, enquanto no sistema privado há uma distorção do poder de escolha, pois mesmo sem indicação a parturiente pode optar pela cesárea, e o médico acaba acolhendo a decisão.

Conseqüências
Uma das conseqüências importantes do alto número de partos cesáreos é o aumento progressivo de casos de prematuridade dos bebês, uma vez que as cesarianas são marcadas sem a certeza absoluta de que o bebê está pronto para nascer. O trabalho de parto, característico do parto normal, é o grande sinalizador deste momento e não chega a acontecer nas cesarianas pré-agendadas por conveniência das mães e dos obstetras. Outra conseqüência importante é o aumento do número de nascimentos de bebês com malformações congênitas do aparelho circulatório, também possível de ser relacionado tanto à prematuridade como à alta prevalência de cesarianas.


Saiba as indicações bem precisas para a realização de cesarianas

Existem indicações bem precisas para a realização de cesarianas, relacionadas ao risco para a vida e para a saúde do bebê ou da mãe: quando a cabeça do bebê é maior do que a passagem da mãe, quando há hemorragias no final da gravidez, a hipertensão da mãe durante a gravidez, quando o bebê está atravessado na barriga ou está entrando em sofrimento fetal e nos casos de gestantes portadoras do vírus HIV. A ocorrência de diabete na gestação, a ruptura prematura da bolsa d’água e o trabalho de parto prolongado podem ser indicativos da necessidade de cesariana, mas não é regra, pois depende da avaliação médica de cada caso.

Crença
Há também uma crença difundida entre profissionais e entre as mulheres de que uma vez realizada uma cesariana, os demais partos devem ser sempre cesariana também. Tal crença não se sustenta em base científica, pois a única coisa que é contra-indicada, nestes casos, é a indução do parto através de substâncias específicas como a ocitocina, que aumenta a força das contrações e diminui o intervalo entre elas.

Memória intuitiva
O corpo da mulher guarda uma memória intuitiva do processo natural do parto. Não é por acaso que muitas mulheres tornaram-se parteiras sem terem passado por nenhum estudo. Atualmente, a modelo internacional Gisele Bündchen surpreendeu o mundo optando por realizar o parto de seu primeiro filho em casa, pelo método mais natural possível. Queria sentir-se protagonista do processo e vivenciar o parto por inteiro, dizendo que cada contração lhe ajudava a conhecer melhor o bebê.

Remuneração
Muitas iniciativas estão sendo tomadas desde o início desta década para reverter a tendência ao aumento de cesarianas no país. Em 2000, o Programa de Humanização do Pré-Natal e do Nascimento já propôs diversas frentes de trabalho para reduzir o número de cesarianas e as suas conseqüências para as mães, para os bebês e para a saúde. Uma delas refere-se ao sistema de remuneração, que antes privilegiava a cesariana por tratar-se de uma cirurgia.

Valorização profissional
Segundo o Dr. Dino de Lorenzi, hoje os obstetras recebem mais pelo parto normal do que pela cesárea, tanto no sistema público como no privado, mas ainda falta maior valorização do profissional médico e do ato de nascer, pois o parto normal exige maior disponibilidade do profissional. Já nos hospitais da rede pública ou conveniados ao SUS, somente 35% dos partos cesáreos são remunerados, o que ultrapassar disso não é pago, como um dispositivo para aumentar o incentivo ao parto normal.

Mudar cultura
Em Caxias, não existe nenhum trabalho especial dos hospitais no sentido de humanização do parto e do ato de nascer. “Nas Unidades Básicas de Saúde temos realizado um trabalho com os grupos de gestantes para valorizar o parto normal”. Para o Dr. Dino, é necessário mudar a cultura em relação ao parto.

Humanização
Confirmando uma tendência nacional já observada nas últimas duas décadas, o número de partos cesáreos no município não para de crescer. Do total de 5.878 nascimentos registrados em Caxias no ano de 2009, 3.817 foram através de parto cesáreo, ou seja, 65% do total.

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